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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

 

- O tempo que faz –


 
“O tempo. Já em inglês: time/weather; e em latim: tempus/coelu. Superioridade do grego: chronos/era; estado do céu; eudia, bom tempo; ombrios, chuvoso; cheimon: tempestuoso, etc. - galene, calmo sobre o mar etc. – Em francês: o-tempo-que-faz: introduzimos um fatitivo, o que mostra bem que o importante na noção é uma relação ativa do sujeito com o presente.” 
(Barthes – A preparação do romance – Aula do dia 20 de janeiro de 1979).


Me pego de soslaio a pensar: o que constitui o essencial de nossas experiências em um tempo que faz? Em um Chronos em perpétua anomalia com Saturno. No ápice de experiências vividas e por hora em estado de apreensão, sobressalta um eco de recônditos distantes: “De onde se originam verdadeiramente nosso bem e nosso mal?”. Caro F. Nietzsche, me acompanha na difícil súmula de ir ao encontro do mar e esquecer qualquer discernimento entre a origem de um bem e a contra-efetuação de um suposto mal. Quais são os valores e juízos que impuseram o hábito de se constituir as ações humanas sob o prisma da moral? Penso nas inversões, me distraio nas imensas faltas que assombram supostos mandarins do bom gosto. Será que o bem, o mal, o gosto, o hábito constituem os senhores de um mesmo caminho?

O genealogista alemão apostaria na inversão, diria que a moral é um equívoco dos homens do conhecimento, dos sujeitos imbuídos de razão. E não obstante, referencia a razão ao bem, sejamos racionais e letrados em nossos plenos argumentos de sentido – sou suspeita – o pior de mim- se constitui em somente aceitar o que tem todo o sentido – minhas pernas fraquejam diante do não sentido. É preciso coragem e silêncio para atravessar o deserto e não se ser nobre o tempo inteiro. Quando é possível no ato da Experiência Viva (Erlebnis) identificar a sua porção de maldade ou quiçá de bondade? Sob quais julgos transitam as extremidades que supomos constituir nosso ser e agir?

É preciso aprender a ver, pensar, falar, escutar e dançar com os nossos impossíveis – eles estão aí, transfigurando-se. Há um momento no meio do caminho da vida que é desleal apreciar Sísifo e se torna essencial manusear o nosso Mal de Arquivo, despedir os guardiões para os portões se abrirem. As armaduras podem ser leves, mas não como pés de pombos, as dicotomias só me chegam na preeminente suposta existência de um outro. Será a moral uma forma saturada de se viver junto?


Carolina Votto*
Noites de verão 2016

*formada em filosofia e mestre em história e teoria das artes visuais.