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terça-feira, 26 de abril de 2016

Texto de Elke Siedler - publicado no clicrbs - sobre a estreia no MIS da performance O Pior de Mim:


O Pior de Mim é uma dança que transita por distintas mídias, em ambiências off-line e online. A idealizadora e executora do projeto, a performer Monica Siedler, desestabiliza as noções engessadas de fruição em artes do corpo ao propor uma experiência dilatada. Isto é, ela provoca o público ao se apresentar em diversas situações, e em distintas temporalidades, de modo que evoca interrogações sobre os limites  das relações entre corpo e obra de arte. 

Desde o início, Monica convidou artistas e público em geral para instaurar um campo de vivências e experiências voltadas às questões trabalhadas no projeto. Neste contexto, a dança foi materializada em vídeo-performances (postados no YouTube), fruto de sua parceria com Barbara Biscaro; há uma série de traduções criativas dos ensaios abertos, assinadas por espectadores e/ou especialistas nas áreas das artes e compartilhadas no blog do projeto; foram desenvolvidas performances urbanas em conjunto com os integrantes do workshop intensivo, proposto por Monica. 

No dia 20 de abril, o público lotou o Museu de Imagem e do Som (MIS), localizado nas dependências do Centro Integrado de Cultura (CIC), para ter uma experiência diferenciada. O Pior de Mim cresceu e foi materializado numa performance marginal compartilhada com o Dj Ledgroove, Vj Bruno Bez e o cenógrafo Roberto Gorgati.  Eu não posso descrever em detalhes esse solo de dança, pois não quero descaracterizá-lo, já que o devir é sua condição de existência. Cada apresentação é a enunciação da resultante provisória de encontros temporários com uma gama de artistas. Mas o denominador comum de todas as performances é a força, é a entropia, é a instabilidade instaurada no corpo e no ambiente.  
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Monica Siedler tem uma corporalidade de guerra. Seus gestos são agressivos, feito as errantes quando lutam pela sobrevivência nas ruas. Suas costas nuas denunciam que ela sobreviveu a um tiro nas costas. Suas vestes a protegem dos tempos difíceis. O vídeo-self feito em tempo real dá visibilidade aos contornos borrados de seu rosto que já chorou, e muito. A sombra do corpo é grande e contamina ao mesmo tempo em que é contaminada pelas imagens coloridas produzidas ao vivo e projetadas num telão em concordância com a música ácida, que provoca dor no corpo de quem a escuta. 

O Pior de Mim é sobre um corpo coletivo em ruínas, que está defronte aos fracassos de suas ações passadas...é um corpo em crise e arruinado pelos hábitos que um dia fizeram sentido. Não há respostas sobre os rumos a seguir, mas há pistas de que o melhor pode emergir do seu pior. As próximas apresentações serão no dia 25 de abril, às 20h, no Ceart, 29 e 30 de abril, às 20h, no Teatro da Armação e 12 de maio, às 22h15min, no bloco de Artes Cênicas UFSC. 

* Elke Siedler é bailarina independente e doutoranda em comunicação e semiótica

sábado, 23 de abril de 2016





Vem                                * por Mariana Coral





O pior de mim é um acionamento, algo que é disparado por outrem.. Fruto de uma simbiose que tornou-se vazia, um lugar de sombra e do côncavo. 



Pela estrada nos damos em fluxo “o melhor e o pior de mim”. Uma dança de comportamentos viciados. Esse vício não se constroí sozinho e sim, principalmente por aqueles que mascaram o pior de si. 



Hoje quero te ver dançar. Quero te mostrar os abismos que possuo. Gostaria de te dizer o quanto estais louca e quanto o teu pior de si, foi construido com o pior de mim. 



Coroada pelo crepúsculo, espero o clarão do dia. Quero dançar e estar nua.. Sei que não suportarás o dia e entrarás de novo em tua caverna. Te vejo, já, se relacionando com as sombras. Vem, vamos sair daqui lamber o asfato, se alimentar de Terra... até que teu ser frágil e enigmático.. possa de novo caminhar. 



domingo, 17 de abril de 2016




O PIOR DE MIM - andré felipe para monica siedler


Tem quem pense que eu tem quem pense que eu tem quem pense Todas nós aqui estamos tentando ser um pouco mais um pouco mais um quem pense que eu Ele nos disse mil vezes pra não voltar mas se ele tá quente nós já tá fervendo hoje é sábado a nossa vida é um sábado e se ele tá quente nós já tá trazendo mil litros desse líquido que nos enche por dentro porque nós tá com sede nós tá fervendo e nós disse mil vezes que esse líquido que nos enche por dentro esse líquido que nos acalma e nos faz mexer por dentro porque mesmo que ele diga mil vezes pra não voltar e ele disse mesmo que ele diga mil vezes e ele disse nós volta e mesmo que ele diga e ele ameaça assim mesmo a gente volta todas nós aqui e ele vê inclusive tem quem pense que eu tem quem pense que nós tem quem diga que a nossa vida é um sábado de madrugada Todas nós aqui estamos tentando ser um pouco mais um pouco menos aquilo que ele pensa que nós aquilo que eu mesma e todas nós pensa que nós deve ser assim mesmo nós volta nós tenta fugir bate a cara contra a parede de salpico e ele ameaça e mesmo assim nós volta e ele nos disse mil vezes pra não voltar mas se ele tá quente nós já tá fervendo mil litros desse líquido que nos acalma e nos faz mexer por dentro queima e se ele pensa que nós acaba nós continua voltando nós continua mexendo e tudo isso aqui é nossa homenagem pra ele - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ------------------------------------------------------------------------- - - Faz tempo que eu to querendo mostrar isso aqui mas eu não sabia como Faz tempo que eu tenho arrastado essa carga pesada dentro de mim mas não encontrava nenhuma outra sala que coubesse Faz tempo que essas coisas rondam o meu pensamento mas ninguém entenderia Faz tempo que todo mundo me olha mas não me entende Faz só duas horas que algumas coisas se clarearam mas não houve tempo Faz tempo eu estou tentando me abrir mas meu avesso também me esconde - - - - - - - - - - entra desvia toca desiste volta mas ninguém me ouve entrega eleva desvia bate desvia desliza esconde entrega recua contem solta expira abaixa desvia para encontra sobe desliza gira tenciona expira inspira torce agarra tenta treme aspira constrói recua solta balança entrega contem - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ------------------------------------------------------------------------- -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Um terreno baldio em um bairro antigo agora cercado de prédios a destruição ainda fresca de uma casa construída nos anos setenta por uma família que não valeria descrever aqui mas de gente que algum dia se importou com esse terreno de uma forma menos materialista e mais afetiva o recorte do telhado marcado no muro lateral os azulejos do antigo banheiro colados nos fundos o alicerce de ladrilho laranja afundado no mato crescido misturado aos entulhos despejados por operários da obra no outro lado da rua uma construção cada dia mais vertiginosa por sua altura uma velha cadeira de praia listrada dos tempos em que ainda era possível entrar no mar nesse lado o pé de carambola inabalável os mosquitos proliferando na água acumulada nas latas de tinta enferrujadas tudo é destruição e tudo é possibilidade - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - expira inspira expira inspira 1 2 3 expira inspira 1 2 3 expira inspira 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18192021vinteedois232425eninguémmeescuta2627282930 40 50 60 70 80 90 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - e nós continua voltando 1 2 3

quarta-feira, 13 de abril de 2016



- Espera I-


Entre Doroti’s e Penélope’s um passo a espreita, uma deseja acordar e retornar para a casa, o aconchego do lar, aquele espaço onde os pesadelos e aventuras estão protegidos pelo cheiro de café ao amanhecer, a cadeira no fundo da cozinha que a espera. A outra só quer que o seu amado retorne para a casa, o amor aventureiro, o homem que irá redimi-la do tamanho da espera, ela tece e refaz a paisagem da tapeçaria, organiza a casa, prepara o lar, dispensa os pretendentes e se coloca em tempo de “esperança”, seria a esperança uma espera? A passividade de Penélope ou o idealismo de Doroti? As mulheres que esperam seus amores retornarem da guerra, Godard certa vez colocou que só os homens fazem guerra, só um homem é capaz de subir em uma moto com uma mochila e atirar em seu vizinho. As mulheres seriam seres cordiais? Doroti deseja retornar para a casa, afinal, as aventuras não foram feitas para seres que “esperam”, ela é uma menina, ela está sonhando, meninas não são aventureiras, tudo não passará de um sonho e ela acordará em sua cama – protegida – de qualquer ameaça ou invasão. Já Penélope, uma mulher, a representante da figura do amor do herói, Ulisses retornará um dia à Ítaca não importa quanto tempo levará, Penélope jurou amor a quem precisou sacrificar sua vida em prol da Cidade, em viver grandes aventuras. E ela tece o que imagina dessas aventuras – um amor narcísico - encontra no outro o que “acha” que não está em si. Será o desejo de Penélope a espera? Será Ulisses o seu desejo de encontro? Ou, de repente, Penélope simplesmente é apaixonada pelo gesto de tecer? Tecer os seus caminhos, se Doroti em sonho passeia em suas desventuras pelas linhas tecidas por Penélope, um encontro entre elas nos resgataria da espera do amor, da espera do herói, talvez, das musas que habitam nosso hades sazonal:
- Doroti: Olá Penélope, você existe ou é só um sonho? Se o acontecimento for frustrante que seja só um sonho, acaso, você também poderá me dizer o que é a realidade?
- Penélope: Doroti, sua menina esperta, andou lendo Platão e inverteu seu desejo pelo assombro – a realidade - é uma cópia distanciada e por ora aproximativa do que vivemos. Você poderá acordar inúmeras vezes e talvez permaneça com a sensação de que ainda irá acordar. É uma espera o que nos constitui.
- Doroti: Porque uma espera? Porque precisamos ser seres de espera? Eu desejo aventuras, mas, insistem que tudo não passa de um sonho.
- Penélope: OOh Doroti, entendi, você quer brincar de fantasmas. Seria a espera um fantasma? Do que você tem medo? De atingir a intensidade? Será por isso que teço angústias e esboço dígrafos de alegria.

* Carolina Votto, outono de 2016

terça-feira, 12 de abril de 2016