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quarta-feira, 13 de abril de 2016



- Espera I-


Entre Doroti’s e Penélope’s um passo a espreita, uma deseja acordar e retornar para a casa, o aconchego do lar, aquele espaço onde os pesadelos e aventuras estão protegidos pelo cheiro de café ao amanhecer, a cadeira no fundo da cozinha que a espera. A outra só quer que o seu amado retorne para a casa, o amor aventureiro, o homem que irá redimi-la do tamanho da espera, ela tece e refaz a paisagem da tapeçaria, organiza a casa, prepara o lar, dispensa os pretendentes e se coloca em tempo de “esperança”, seria a esperança uma espera? A passividade de Penélope ou o idealismo de Doroti? As mulheres que esperam seus amores retornarem da guerra, Godard certa vez colocou que só os homens fazem guerra, só um homem é capaz de subir em uma moto com uma mochila e atirar em seu vizinho. As mulheres seriam seres cordiais? Doroti deseja retornar para a casa, afinal, as aventuras não foram feitas para seres que “esperam”, ela é uma menina, ela está sonhando, meninas não são aventureiras, tudo não passará de um sonho e ela acordará em sua cama – protegida – de qualquer ameaça ou invasão. Já Penélope, uma mulher, a representante da figura do amor do herói, Ulisses retornará um dia à Ítaca não importa quanto tempo levará, Penélope jurou amor a quem precisou sacrificar sua vida em prol da Cidade, em viver grandes aventuras. E ela tece o que imagina dessas aventuras – um amor narcísico - encontra no outro o que “acha” que não está em si. Será o desejo de Penélope a espera? Será Ulisses o seu desejo de encontro? Ou, de repente, Penélope simplesmente é apaixonada pelo gesto de tecer? Tecer os seus caminhos, se Doroti em sonho passeia em suas desventuras pelas linhas tecidas por Penélope, um encontro entre elas nos resgataria da espera do amor, da espera do herói, talvez, das musas que habitam nosso hades sazonal:
- Doroti: Olá Penélope, você existe ou é só um sonho? Se o acontecimento for frustrante que seja só um sonho, acaso, você também poderá me dizer o que é a realidade?
- Penélope: Doroti, sua menina esperta, andou lendo Platão e inverteu seu desejo pelo assombro – a realidade - é uma cópia distanciada e por ora aproximativa do que vivemos. Você poderá acordar inúmeras vezes e talvez permaneça com a sensação de que ainda irá acordar. É uma espera o que nos constitui.
- Doroti: Porque uma espera? Porque precisamos ser seres de espera? Eu desejo aventuras, mas, insistem que tudo não passa de um sonho.
- Penélope: OOh Doroti, entendi, você quer brincar de fantasmas. Seria a espera um fantasma? Do que você tem medo? De atingir a intensidade? Será por isso que teço angústias e esboço dígrafos de alegria.

* Carolina Votto, outono de 2016