O PIOR DE MIM - andré felipe para monica siedler
Tem quem pense que eu – tem quem pense que eu – tem quem pense – Todas nós aqui estamos tentando ser um pouco mais – um pouco mais um – quem pense que eu – Ele nos disse mil vezes pra não voltar mas se ele tá quente nós já tá fervendo hoje é sábado a nossa vida é um sábado e se ele tá quente nós já tá trazendo mil litros desse líquido que nos enche por dentro porque nós tá com sede nós tá fervendo e nós disse mil vezes que esse líquido que nos enche por dentro esse líquido que nos acalma e nos faz mexer por dentro porque mesmo que ele diga mil vezes pra não voltar – e ele disse – mesmo que ele diga mil vezes – e ele disse – nós volta e mesmo que ele diga – e ele ameaça – assim mesmo a gente volta – todas nós aqui – e ele vê – inclusive tem quem pense que eu – tem quem pense que nós – tem quem diga que a nossa vida é um sábado de madrugada – Todas nós aqui estamos tentando ser um pouco mais – um pouco menos aquilo que ele pensa que nós – aquilo que eu mesma e todas nós pensa que nós deve – ser assim mesmo nós volta – nós tenta fugir – bate a cara contra a parede de salpico – e ele ameaça – e mesmo assim nós volta – e ele nos disse mil vezes pra não voltar mas se ele tá quente nós já tá fervendo mil litros desse líquido que nos acalma e nos faz mexer por dentro queima – e se ele pensa que nós acaba nós continua voltando nós continua mexendo e tudo isso aqui é nossa homenagem pra ele - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ------------------------------------------------------------------------- - - Faz tempo que eu to querendo mostrar isso aqui mas eu não sabia como Faz tempo que eu tenho arrastado essa carga pesada dentro de mim mas não encontrava nenhuma outra sala que coubesse Faz tempo que essas coisas rondam o meu pensamento mas ninguém entenderia Faz tempo que todo mundo me olha mas não me entende Faz só duas horas que algumas coisas se clarearam mas não houve tempo Faz tempo eu estou tentando me abrir mas meu avesso também me esconde - - - - - - - - - - entra – desvia – toca – desiste – volta – mas ninguém me ouve – entrega – eleva – desvia – bate – desvia – desliza – esconde – entrega – recua – contem – solta – expira – abaixa – desvia – para – encontra – sobe – desliza – gira – tenciona – expira – inspira – torce – agarra – tenta – treme – aspira – constrói – recua – solta – balança – entrega – contem - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ------------------------------------------------------------------------- -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Um terreno baldio em um bairro antigo agora cercado de prédios a destruição ainda fresca de uma casa construída nos anos setenta por uma família que não valeria descrever aqui mas de gente que algum dia se importou com esse terreno de uma forma menos materialista e mais afetiva o recorte do telhado marcado no muro lateral os azulejos do antigo banheiro colados nos fundos o alicerce de ladrilho laranja afundado no mato crescido misturado aos entulhos despejados por operários da obra no outro lado da rua uma construção cada dia mais vertiginosa por sua altura uma velha cadeira de praia listrada dos tempos em que ainda era possível entrar no mar nesse lado o pé de carambola inabalável os mosquitos proliferando na água acumulada nas latas de tinta enferrujadas tudo é destruição e tudo é possibilidade - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - expira – inspira – expira – inspira – 1 – 2 – 3 – expira – inspira – 1 – 2 – 3 – expira – inspira – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 – 11 – 12 – 13 – 14 – 15 – 16 – 17 – 18–19–20–21–vinteedois–23–24–25–eninguémmeescuta– 26–27–28–29–30 – 40 – 50 – 60 – 70 – 80 – 90 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - e nós continua voltando – 1 – 2 – 3