O Pior de Mim é uma dança que transita por distintas
mídias, em ambiências off-line e online. A idealizadora e executora do
projeto, a performer Monica Siedler, desestabiliza as noções
engessadas de fruição em artes do corpo ao propor uma experiência
dilatada. Isto é, ela provoca o público ao se apresentar em diversas
situações, e em distintas temporalidades, de modo que evoca
interrogações sobre os limites das relações entre corpo e obra de arte.
Desde o início, Monica convidou artistas e público em geral para
instaurar um campo de vivências e experiências voltadas às questões
trabalhadas no projeto. Neste contexto, a dança foi materializada em
vídeo-performances (postados no YouTube), fruto de sua parceria com
Barbara Biscaro; há uma série de traduções criativas dos ensaios
abertos, assinadas por espectadores e/ou especialistas nas áreas das
artes e compartilhadas no blog do projeto; foram desenvolvidas
performances urbanas em conjunto com os integrantes do workshop
intensivo, proposto por Monica.
No dia 20 de abril, o público
lotou o Museu de Imagem e do Som (MIS), localizado nas dependências do
Centro Integrado de Cultura (CIC), para ter uma experiência
diferenciada. O Pior de Mim cresceu e foi materializado
numa performance marginal compartilhada com o Dj Ledgroove, Vj Bruno Bez
e o cenógrafo Roberto Gorgati. Eu não posso descrever em detalhes esse
solo de dança, pois não quero descaracterizá-lo, já que o devir é sua
condição de existência. Cada apresentação é a enunciação da resultante
provisória de encontros temporários com uma gama de artistas. Mas o
denominador comum de todas as performances é a força, é a entropia, é a
instabilidade instaurada no corpo e no ambiente.
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Monica Siedler tem uma corporalidade de guerra. Seus gestos são
agressivos, feito as errantes quando lutam pela sobrevivência nas ruas.
Suas costas nuas denunciam que ela sobreviveu a um tiro nas costas. Suas
vestes a protegem dos tempos difíceis. O vídeo-self feito em tempo real
dá visibilidade aos contornos borrados de seu rosto que já chorou, e
muito. A sombra do corpo é grande e contamina ao mesmo tempo em que é
contaminada pelas imagens coloridas produzidas ao vivo e projetadas num
telão em concordância com a música ácida, que provoca dor no corpo de
quem a escuta.
O Pior de Mim é sobre um corpo coletivo em ruínas, que
está defronte aos fracassos de suas ações passadas...é um corpo em crise
e arruinado pelos hábitos que um dia fizeram sentido. Não há respostas
sobre os rumos a seguir, mas há pistas de que o melhor pode emergir do
seu pior. As próximas apresentações serão no dia 25 de abril, às 20h, no
Ceart, 29 e 30 de abril, às 20h, no Teatro da Armação e 12 de maio, às
22h15min, no bloco de Artes Cênicas UFSC.
* Elke Siedler é bailarina independente e doutoranda em comunicação e semiótica