notícias

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016




Quem quase disse uma palavra perdeu no segundo em que hesitou. O momento era aquele. Como que faz pra repetir o mesmo com intensidade e novidade? O teatro é a arte do fracasso. Apenas quando o teatro perde é que algo interessante acontece para o espectador. O gozo da atriz está no camarim, na coxia, no bar após a apresentação. no erotismo daqueles que tem medo de se expor. O fetiche da garota mentirosa que atua. Mas quando ela fracassa é que o público se apaixona de verdade. Quando a atriz está cansada e entregue aos fantasmas alheios. Quando é atuada pelos movimentos das suas células fluídos gases ventos sopros e pavor. Quando o que emerge é o que está por trás, no limite entre a pele e o espaço. A pele arde, o sangue é contaminado pela possibilidade do castigo pelo pecado. O pecado de dar-se. O prazer imediato. O azar que a persegue pelo sobrenome que a indica. Antepassados. Os piores fantasmas. Aqueles que habitam um gesto, um modo de olhar, um tique, um timbre de voz. Nada é autêntico naquele corpo até o momento em que se abre para a vida sem medo de errar. Uma sensação seguida de queda abrupta. Todo dia cair e levantar, comprimir-se e expandir. Quando entender que a vida é isso será isso até o fim daí é que o bicho pega e só mesmo uma boa dança uma boa foda uma boa briga uma boa risa uma boa ducha uma boa praia uma boa boca uma boa cerveja uma boa chuva uma boa torta uma boa conversa uma boa pasta uma boa lua uma boa vida, a mesma vida, mas com o olhar para o fim.